terça-feira, 14 de julho de 2009

Ana

Ana, a nossa heroína... Ou apenas Ana. Aquela que nem mesmo o nome apresenta grandes mudanças, acostumada a sua vidinha premeditada e uma pacata rotina. Sem grandes feitos a filha doce, a amiga compreensiva e a estudiosa moça... Essa é Ana...
Cansada de sonhos não concretizados, a jovem escondia um espírito inquieto e uma vontade de se entregar ao mundo, de viver fantasias que somente confidenciava ao seu travesseiro.
Obediente aos pais, ela nunca os desobedeceu, jamais ficou de castigo. Uma aluna com o melhor boletim da escola, e a amiga ou a melhor ouvinte que poderia existir. Essa era a Ana, o que teria errado se tudo o que foi narrado.. Apresentam apenas qualidades...
O erro aparece quando Ana conhece Gabriel, o rapaz com alma de pássaro, o palhaço, aquele que o limite da vida, só podia ser ele mesmo.
Gabriel representava a liberdade que Ana almejava ,a libertação das amarras que a própria moça se prendeu....Ana era insegura demais para compreender que antes das qualidades que carregava, poderia carregar defeitos e se permitir não ser a melhor aluna, a falar ao invés de apenas ouvir, que podia ser apenas ela e se aventurar em riscos...
Sonhava todas as noites com Gabriel, e cada palavra que trocavam se desprendia da gaiola encantada em que se encontrava, as palavras do rapaz a desafiavam a percorrer suas vontades e se desprender de sua pacata rotina. Faziam com que a moça se questionasse até que ponto viveria uma vida imposta, ou escreveria seus passos.
A vontade de seus pais era que a jovem seguisse direito, os pais sempre investiram nisso, era o sonho da família, entretanto, o sonho de Ana era apenas um: o palco. O palco fazia com que Ana pudesse ouvir sua alma, era sua maior realização. Era desajeitada com seu corpo e tinha vergonha de cantar em público, sabia que não seria feliz se não pudesse dar vazão ao seu interior.
Gabriel era o palco de Ana, era toda a luz que almejava, era um homem com alma de menino, e para anjo faltavam-lhe apenas as asas. Asas que se faziam presentes quando estava em cena.
Ana iniciou o curso de direito, era enfadonho seguir com tudo aquilo, mais não podia desapontar seus pais. Pintava um sorriso pelo qual não existia, sabia que gastava tempo e esforço com uma atividade que não lhe causava prazer. Mais não podia deixar de ser a filha doce e a boa aluna.
A cada instante se mostrava distante de suas amigas, não estava pronta para apenas ouvir, com um coração carregado de palavras presas. Não queria perde-las, e muitas vezes mesmo contra a vontade silenciava e como a boa ouvinte, escutava cada palavra.
Sua fuga se apresenta nos relatos de Gabriel, por nenhum momento trocaram um abraço, ou se quer se tocaram... Faziam-se presentes apenas pelas palavras, mas quando estava com Gabriel. Ana podia ser ela mesma e expor seus anseios, suas ilusões e partilhar com ele o sentido de estar em cena, à magia de representar... Não precisava carregar as qualidades, bastava apenas ser ANA.

“Siga sempre na direção em que seu medo cresce." Bethiara Lima

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